Estes últimos dias estive ocupada com um antigo passatempo que havia abandonado à anos, a pintura. Sempre gostei de pintar e desenhar. Tenho ainda lápis de cor do tempo que estava saindo da infância, e acho que foi na adolescência que guardei eles e nunca mais mexi. Com essa nova onda de livros de pintar para adultos acabei reencontrando minha antiga caixa de lápis de cor e o prazer de colorir.
Com a internet tudo fica muito fácil, inclusive foi por meio de uma rede social que tomei contato com o livro Jardim Secreto, recomendaram a notícia de que um livro de colorir estava estourando em vendas, com um propósito simples o livro alcançou milhares de pessoas, esgotou várias vezes nas livrarias mais famosas, e virou uma febre mundial.
Logo na capa ele se descreve como livro de colorir e caça ao tesouro antiestresse, e realmente para quem gosta de pintar o livro proporciona momentos de muito prazer, o que faz minimizar muitos aborrecimentos do dia. Os desenhos são lindos, flores, folhagens, jardins, borboletas, crisálidas... o papel tem uma textura gostosa, e apesar da recomendação para usar apenas lápis de cor permite utilizar outras ferramentas, como canetinhas, giz, aquarela...
O que me chamou atenção nesse tempo pintando foi um grupo em uma rede social dedicado à esse livro, à ele e ao livro Floresta Encantada, que é uma sequência do livro Jardim Secreto. O grupo existe para compartilhar os desenhos pintados, compartilhar dicas sobre a pintura, os materiais utilizados, e por aí vai, tem um número expressivo de participantes que passa dos 4mil, e é muita gente junto e onde tem muita gente reunida sempre existem as diferenças que aparecem nesse ou naquele post, alguns geram polêmica, outros encantamento, críticas, e alguns exageros.
Uns dias atrás uma jovem reuniu algumas "pérolas" do grupo e escreveu em sua rede social uma pequena crítica ao que via, um texto bem inteligente e enxuto, causou um alvoroço danado no grupo, alguém logo divulgou o texto por lá e a polêmica foi gerada. A menina em resumo chamou as participantes de loucas, no meu entender não todas, mas aquelas que apresentavam comportamentos exagerados, como pagar um absurdo para aprender pintar um simples livro, ou brigar em uma loja por uma caixa de lápis de cor, acusação de fraude aos que pintam com canetinhas, comprar um faqueiro pra usar a caixa como porta lápis de cor, postar o próprio desenho dizendo estar feio para ganhar confetes, essas coisas que vira e mexe aparecem no grupo. E isso me fez pensar.
Quando acontece um surto, como foi em vendas esse livro, mais de um milhão de exemplares, gera uma especie de epidemia, nossa sociedade baseado no materialismo é extremamente consumista e claro um simples livro de pintar mexeu e muito com muita gente. Isso que chamei febre mundial, pegou quase todo mundo, e despertou sintomas em muitas pessoas, sintomas que já existiam mas que no corre corre do dia não são percebidos, mas quando direcionados tornam-se evidentes. É um corre corre por "ter", ter o melhor lápis, ter o melhor resultado, ter o reconhecimento.
É possível identificar o quanto as pessoas andam frustradas, o quanto são competitivas, e como são levadas por critérios superficiais. Como deixam algo tão simples como pintar se transformar em uma corrida maluca. Sociedade moderna... tempos modernos, pessoas vazias.
Felizmente, existem os que entendem a vida sob uma ótica mais saudável, e utilizam o livro com o propósito proposto, ou seja, para pintar e relaxar. E que a expressão do "ser" é muito mais importante e valorosa que a expressão do "ter".
Ser quem se é com honestidade, simplicidade, empatia, e amor é o que constrói as pontes para a harmonia. Não é uma caixa de lápis de cor importada profissional que faz esse ou aquele desenho mais bonito, é o carinho da mão que segurou o lápis... é o amor que se colocou no momento da escolha da cor, não são as técnicas que vão fazer o desenho mais lindo, são os olhos de quem o aprecia que farão dele especial. Quando vejo uma criança desenhando sempre fico maravilhada, porque de um borrão surgem vários animais, prédios, pessoas, um mundo todo de possibilidades.
Desculpem os desenhistas profissionais, que são entendedores da arte de pintar, e que sabem a importância da qualidade do material que utilizam, e que aperfeiçoam diariamente essa arte. Mas eles também sabem que para executar seu oficio com eficiência o instrumento mais importe parte de dentro deles.
Paty
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