Essa frases é bem conhecida "não existe evolução sem mudanças" estamos sempre abandonando um formato para adquirir outro, para alcançar algo novo, que chamamos de melhor, mas fazer esse movimento na maioria das vezes exige vencer uma emoção, o medo. Lembro quando decidi morar sozinha, aluguei uma kitnet, era uma cozinha até ampla um quarto suíte, eu estava muito feliz, animada; minha mudança da casa dos meus pais para esse espaço novo incluía minha cama, um aparelho de televisão, duas poltronas e uma mesa desmontável que estava sem uso na antiga padaria dos meus pais. Eu teria que comprar então a geladeira e o fogão, indispensáveis a nova vida que eu ia levar, também tive que comprar um guarda roupa, queria ser minimalista, ter o mínimo, afinal também, o lugar era pequeno. Eu estava tão feliz, realizada, de verdade. O tempo passou, aquele lugar começou ficar pequeno, a cozinha ampla que antes me parecia tão legal começou se tornar escura, abafada, coloquei alguns quadros tentei trazer algumas plantas, mas as plantas morriam logo, apesar do meu cuidado, então percebi que não tinha ventilação naquele lugar, a porta da cozinha dava para um corredor que era coberto, o prédio era composto por dois blocos, o meu bloco tinha quadro kitnets, e o bloco em frente que era ligado por esse corredor coberto tinha mais 6 kitnets; qualquer barulho que qualquer vizinho fizesse era audível, era como se morassem todos na mesma casa em cômodos separados, quando fui morar lá não notei que não teria privacidade e que dependia tanto da politica de boa vizinhança, mas no ano de 2020 com a chegada da pandemia do coronavírus os vizinhos, assim como eu passamos mais tempo naquele lugar, e alguns problemas começaram ficar muito evidentes. Eu era a mais velha, gosto de dormir mais cedo, para os vizinhos jovens conversas até altas horas eram comuns, o entra e sai da garagem, enfim... por um tempo cada coisa que antes nada significava começou ganhar um tamanho diferente.
Sim, resolvi então me mudar. Mas mudar significava um esforço, um esforço em procurar um lugar novo, escolher implica sempre em perder, gosto sempre de frisar isso, porque para cada lugar que eu dizia não estava diminuindo uma possibilidade, e eu sentia medo de estar deixando algo que poderia ser o ideal, até que me olhei, me olhei profundamente como eu não costumava fazer, e notei que eu estava escolhendo baseada nas minhas crenças de que eu não merecia um lugar confortável, eu merecia um lugar mediano que fosse um pouco maior do que a kitnet. Todos os lugares que me chamavam atenção de maneira positiva eu dizia "é muito". Foi bem difícil, visitei alguns lugares, até que resolvi ir em um desses que eu dizia "é muito", entrei e me senti tão leve, era espaçoso, iluminado, bem ventilado, com uma vista linda, e muito próximo ao meu trabalho; mas pensei "é muito pra mim".
Nem preciso dizer que continuei procurando, só que depois de ter visitado aquele apartamento "muito" ficou difícil aceitar qualquer outro, preciso dizer, passei quase três meses pensando sobre escolher aquele lugar que eu havia gostado tanto, eu sabia que alguém poderia vir e alugar ele antes de mim, só que mesmo três meses depois de tê-lo visitado ele continuava vazio; fiz todas as contas possíveis e todas elas me mostravam que ele não era "muito" para o meu orçamento, considerando que eu trabalharia a pé, teria mais espaço e comodidade, enfim, tudo isso para dizer que eu estava com muita dificuldade de aceitar fazer essa mudança, estava difícil aceitar que eu iria para um degrau a mais, evoluir.
Umas semanas antes da grande decisão visitei por desencargo de consciência uma casa que havia visitado também três meses atrás e que eu tinha até gostado, também próxima ao trabalho, um sobrado, estava pintado numa cor que eu não gostei, tinha um gabinete de pia que eu trocaria na primeira oportunidade, e era muito abafado, mas apesar disso tudo eu quis visita-lo mais um vez. Pedi que um amigo me acompanhasse, e achei muito pertinente um comentário que ele fez dizendo que a economia que eu ia fazer ficando naquela casa e não no apartamento que eu tanto gostei era uma economia boba; porque na verdade colocando na ponta do lápis a diferença monetária era pequena, mas o que eu estava impedindo a decisão era algo lá dentro de mim que não estava aceitando estar numa melhor condição.
É curioso como nós temos um mecanismo altamente sofisticado de auto sabotagem, que acionado instantaneamente, e involuntariamente. Não me esqueço do dia que eu fechei o contrato com o apartamento, era um misto de alegria, culpa e medo. Mas enfim, me mudei, foram os dias mais cansativos que já vivi, porque eu estava mudando, tudo estava mudando, eu estava aceitando que eu me tornei, e isso tinha um custo emocional e energético enorme. Talvez você esteja lendo isso e pensando, que bobagem, mas significou tanto para mim. E significa, todos os dias agradeço por cada espetáculo que vejo da minha janela, e penso no investimento que fiz para a minha qualidade de vida, agora minhas plantas sobrevivem, vivem felizes, assim como eu, quando vejo a casa toda iluminada com os raios do sol pela manhã, e quando também posso apreciar o lindo despedir do sol ao final das tardes. Ainda não completei um mês nesse espaço novo e não vi ainda um dia de chuva daqui, mas imagino que vai ser também fantástico.
Aceitar as mudanças implica em aceitar a própria condição evolutiva, sempre que saímos de um estado para outro existe uma resistência e um esforço, se conseguirmos vencer a resistência e colocar energia para alcançar o novo estado com certeza realizações imensas podem nos alcançar. Hoje escrevo daqui do meu espaço novo, ouço tocar o sino da catedral me avisando que são 22 horas, entra uma brisa fresca pelas janelas, meu sofá chegou ontem, escrevo sentada nele, e sei que que cada dia vou deixar esse espaço mais bonito e aconchegante, ainda tenho medo, mas sigo com ele, não o enfrento, mas vou em frente com ele, usando meu medo como propulsor não como freio, sei que posso e mereço estar aqui e espero que as mudanças da sua vida encontrem muita evolução, muito crescimento, e que apesar das incertezas você acredite sempre que todos os sonhos podem se tornar reais, o maior empecilho para a realização deles muitas vezes é você mesmo! Confie em você!
gostei deste tema, denota que tens uma ideia bem estruturada e devias publicar isto em Jornais diários, pensa nisso, em vez de publicares no teu blog.
ResponderExcluirPensa nisso.
João Felgar
Muito obrigada pelo feedback, eventualmente tenho escrito para jornais regionais, que bom que tem gostado!
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