Começo a olhar a minha volta, percebo quantos livros comprei esse ano, e fico perplexa ao constatar que terminei de ler apenas um, mas confesso que nada lembro dele, exceto o nome. E quantas coisas na vida ficaram como esses livros, foram iniciadas mas deixadas, e incompletas ficaram. Daqui a alguns dias é meu aniversário, e nessa época do ano é natural que eu fique "esquisita" eu chamo de meu "inferno astral", mas na verdade é uma crise de adaptação à nova idade, porque a nova idade trás também a constatação de que muita coisa ainda não foi feita e que existe ainda muito a fazer.
Apesar de já ter dobrado os 15 anos ainda sinto como se fosse uma jovem debutante. Talvez porque ainda esteja olhando para a vida daquele lugar, dos meus 15 anos, com tantos sonhos a realizar. Com tantos livros para começar a ler.
Vivi tantas histórias interessantes nesses anos, e sempre me pego tentando dar um final feliz a cada uma delas, agora faz sentindo olhar e perceber que deixei, sempre: tudo meio acabado, e não acabado; por isso agora essa sensação de que dá para fazer algo diferente, mas a realidade não é essa, a realidade é que foi feito o que poderia ser feito naquela ocasião, e aquele foi o fim, não o felizes para sempre, mas o fim possível para aquele momento.
"Nada acontece duas vezes da mesma maneira" essa frase não é minha, é de Crônicas de Nárnia, mas uso ela hoje para exemplificar o que sinto. Todas as histórias vividas não podem ser revividas, elas podem ser resignificadas, ou seja, podem voltar, mas de uma maneira diferente.
Pensando nesses livros todos que estão aqui sem terminar, fiquei lembrando das histórias do passado, aquelas que eu gostaria muito de resgatar, aquelas que eu comecei, mas que de alguma maneira deixei (ou sinto que deixei) meio acabadas ou não acabadas, e fiquei imaginando se hoje eu pudesse reviver alguma delas, escolhi com muito carinho e cuidado uma que gosto muito, uma jantar romântico, e percebi que se o cavalheiro em questão estivesse aqui hoje, e hoje me convidasse pro mesmo jantar, tudo seria muito diferente, por que as coisas que sei hoje, as coisas que aprendi, vivenciei, me fazem hoje uma pessoa diferente daquela de anos atrás, assim como ele com certeza está mudando pelo tempo que viveu, pelas coisas que aprendeu e experimentou da vida nesse intervalo. Nem o restaurante existe mais, por isso teríamos que procurar um novo lugar, e desse novo lugar essas novas pessoas se olhariam novamente, mas de maneira inédita, então talvez esse novo encontro não pudesse ser uma segunda chance, mas uma nova chance.
Tudo isso pra dizer que existem histórias para começar, mas que é importante saber quando uma história chega ao final, não devemos deixar histórias inacabadas nos assombrarem, amontoando poeira em nossa vida, por que é o que sinto com tantos livros pela estante, na mesa, no criado mudo, são tantas histórias a terminar. É preciso iniciar, se envolver, e então mergulhar, apreender e aprender, seguir em frente, chegar ao final, para que então novos começos surjam, ou mesmo novas maneiras de viver. Porque um livro pode ser lido quantas vezes quisermos, mas cada vez vai ser compreendido de maneira inédita, única e especialmente nova.
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