segunda-feira, 22 de outubro de 2018

Liberdade


Quantas vezes deixamos de ser nós mesmos, nos perdemos em meio a correria do dia a dia, ou às exigências e carências que impomos ou são impostas. 
Peguei minha antiga "lata" de lápis de cor, ela já me acompanha desde a infância, são lápis de cor tão queridos, e aquele livro de desenhos zen para colorir, com fones de ouvido minha playlist "Shakira" que sensação boa. Éramos eu, os lápis, o livro e a música, com um vento gostoso entrando pela janela. Um tempo atrás, ainda lembro, como era difícil fazer isso, e como era dolorido estar atendendo as exigências de um outro que impunha sua vontade de que "eu" não fosse "eu" alegando o contrário. Abri mão do meu espaço e dos meus desejos, via a programas de TV que não gosto, fazia programas que não me preenchiam, e estava sempre sentindo um grande vazio.
E agora escrevendo esse pequeno texto, com uma outra playlist, começa a tocar, Highway to Hell (AC/DC), e sim, estava a caminho do inferno, mantendo um relacionamento para sentir que tinha alguém, mas me sentindo extremante solitária, sabe quando falam de solidão a dois. Foi difícil, como toda decisão que envolve rompimento é difícil de ser tomada, no começo senti falta daquilo que eu chamava de rotina, apesar dela não ser uma rotina que me fazia feliz, é curioso como demoramos a abrir mão inclusive do sofrimento, daquilo que não nos traz felicidade.
Tem poucos dias estava justamente reclamando da solidão, mas não é a solidão que me incomoda, talvez agora pude compreender isso melhor, deixei o celular distante, me permiti momentos de ócio, pude dormir quando o corpo pedia cochilo, comer quando tinha vontade, e o que tinha vontade, fazer o que me faz bem, e inclusive estudar, assisti Homem Formiga e a Vespa, legendado, que delícia, ninguém criticava, também assisti alguns episódios das minha séries favoritas, sem aquela frase ridícula, "você gosta disso?!" como se fosse um crime gostar de contos de fadas, ficção científica ou drama. E então eu percebi o que é a liberdade.
Estamos sempre procurando algo, ou alguém, a maioria de nós sente esse "vazio" esse "buraco" a preencher, essa "falta" e o que eu acabei percebendo nos últimos dias é que não existe alguém, ou alguma coisa que vá preencher esse espaço, porque na verdade esse espaço existe porque eu, você, criamos ele, criamos a ilusão de que falta algo. Enquanto na minha playlist tocava "Estoy aqui", eu ria pensando em como tudo depende única e exclusivamente de mim. 
Algumas vezes fazemos escolhas equivocadas e colocamos em nossas vidas pessoas incompatíveis para provar para nós mesmos algo improvável, por capricho, por carência, ou seja lá o que for. E na verdade a felicidade a dois só existe quando cada um consegue encontrar-se feliz com sua própria solidão, ai sim serão capazes de compartilhar, de serem livres de fato. Porque talvez para um casal ser casal, a aliança deve trazer gravada: Juntos e livres para sempre.
Então a primeira coisa a fazer é dizer "sim" à própria solidão, como diz o poeta, assim as borboletas virão, e acrescento: permanecerão.




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