domingo, 8 de agosto de 2010

Religião, porque tanta briga?

Nada é por acaso, outro dia eu estava pensando sobre uma reportagem que li no G1, falava sobre médicos que foram assassinados no afeganistão (leia aqui), foram assassinados por talibãs porque pregavam o cristianismo...
Religião, porque tanta briga? Quando entrei pra faculdade comecei me questionar mais sobre isso, afinal nunca tinha pensado muito profundamente sobre isso, nasci em um lar cristão, sempre acreditei em Deus e vira-e-mexe estava pedindo auxilio de algum santo. Mas nem por isso deixava de ler sobre a doutrina espirita que sempre me atraiu; já visitei igrejas evangelicas, convidada por amigas, sempre respeitei a maneira de pensar e a fé de cada um, e a minha própria; mas foi na faculdade que alguns textos começaram a chamar minha atenção. Numa aula um dos professores nos indicou um livro pra leitura, Deus é um delírio, eu não li, infelizmente, porque acho que agente tem que tentar entrar em contato e saber sobre os diversos pontos de vista. Um outro texto e dessa vez eu li, O mal-estar na civilização, de Freud, me encantou, realmente uma perspectiva bem realista sobre a religião, sua função para a humanidade. Mas não é sobre isso que quero falar, é sobre um outro texto que me chegou hoje por e-mail e que me fez pensar nos médicos do afeganistão e na questão da religião....


Para quem não sabe, semanas antes da Páscoa atrás, os jogadores do Santos foram convidados pelo clube a ir a um hospital em que são tratadas portadoras de deficiências mentais. O objetivo era entregar ovos de páscoa e alegrar as crianças. Na porta do lar de crianças alguns jogadores ficaram sabendo que era mantido por entidades espíritas e, imediatamente, se recusaram a entrar, sob a alegação de que sua religião, os proíbe de contatos com o espiritismo. Recusaram-se, assim, a manter contato com as crianças, embora outros jogadores entrassem e cumprissem a tarefa para a qual haviam se deslocado até ali. Criticado, como os demais do grupo resistente, Robinho exigiu: "é preciso que respeitem a religião da gente".
 
Texto sobre o episódio envolvendo os jogadores do Santos numa visita ao Lar Espírita Mensageiros da Luz, que cuida de crianças com deficiência cerebral, para entregar ovos de Páscoa. Uma parte dos atletas, entre eles, Robinho, Neymar, Ganso e Fabio Costa, se recusaram a entrar na entidade e preferiram ficar dentro do ônibus do clube, sob a alegação de que são evangélicos.

No Brasil, futebol é religião


Os meninos da Vila pisaram na bola. Mas prefiro sair em sua defesa. Eles não erraram sozinhos. Fizeram a cabeça deles. O mundo religioso é mestre em fazer a cabeça dos outros. Por isso cada vez mais me convenço que o Cristianismo implica a superação da religião, e cada vez mais me dedico a pensar nas categorias da espiritualidade, em detrimento das categorias da religião.
A religião está baseada nos ritos, dogmas e credos, tabus e códigos morais de cada tradição de fé. A espiritualidade está fundamentada nos conteúdos universais de todas e cada uma das tradições de fé.
Quando você começa a discutir quem vai para céu e quem vai para o inferno, ou se Deus é a favor ou contra à prática do homossexualismo, ou mesmo se você trem que subir uma escada de joelhos ou dar o dízimo na igreja para alcançar o favor de Deus, você está discutindo religião. Quando você começa a discutir se o correto é a reencarnação ou a ressurreição, a teoria de Darwin ou a narrativa do Gênesis, e se o livro certo é a Bíblia ou o Corão, você está discutindo religião. Quando você fica perguntando se a instituição social é espírita kardecista, evangélica, ou católica, você está discutindo religião.
O problema é que toda vez que você discute religião você afasta as pessoas umas das outras, promove o sectarismo e a intolerância. A religião coloca de um lado os adoradores de Allá, de outro os adoradores de Yahweh, e de outro os adoradores de Jesus. Isso sem falar nos adores de Shiva, de Krishna e devotos do Buda, e por aí vai. E cada grupo de adoradores deseja a extinção dos outros, ou pela conversão à sua religião, o que faz com que os outros deixam de existir enquanto outros e se tornem iguais a nós, ou pelo extermínio através do assassinato em nome de Deus, ou melhor, em nome de um deus, com d minúsculo, isto é, um ídolo que pretende se passar por Deus.
Mas quando você concentra sua atenção e ação, sua práxis, em valores como reconciliação, perdão, misericórdia, compaixão, solidariedade, amor e caridade, você está no horizonte da espiritualidade, comum a todas as tradições religiosas. E quando você está com o coração cheio de espiritualidade, e não de religião, você promove a justiça e a paz. Os valores espirituais agregam pessoas, aproxima os diferentes, faz com que os discordantes no mundo das crenças se deem as mãos no mundo da busca de superação do sofrimento humano, que a todos nós humilha e iguala, independentemente de raça, gênero, e inclusive religião.
Em síntese, quando você vive no mundo da religião, você fica no ônibus. Quando você vive no mundo da espiritualidade que a sua religião ensina - ou pelo menos deveria ensinar, você desce do ônibus e dá um ovo de páscoa para uma criança que sofre a tragédia e miséria de uma paralisia mental.
Ed René Kivitz, cristão, pastor evangélico, e santista desde pequenininho.

Ed René Kivitz é mestre em Ciências da Religião pela Universidade Metodista de São Paulo, escritor, conferencista e pastor da Igreja Batista de Água Branca, na Zona Oeste de São Paulo, tendo obras e pastorais publicados neste site: www.ibab.com.br

3 comentários:

  1. Parabéns!

    Resumiu minha maneira de viver e ver Deus, presente em todos os seres humanos e não em nenhuma religião, pois religião serve apenas para agregar pessoas para a adoração a Deus.

    Sou Kardecista e você parece que conhece bem, nós não pregamos religião, pregamos o amor ao próximo, sem nenhuma distinção, nosso princípio moral é amar sem distinção.

    Quanto ao Robinho e outros, são vítimas de uma sociedade preconceituosa e hipócrita, que tanto Jesus, como Buda e outros avatares que aqui estiveram pregaram o amor e não a discórdia.

    Espero que um dia sejamos todos verdadeiramente irmãos.

    Como a bíblia nos informa: Conhecereis a verdade e a verdade vos libertará.

    Um abraço.

    Eduardo

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    1. Muito Obrigada Eduardo, o Texto mais significativo do post é de Ed René Kivitz, eu apenas introduzi à ideia. Sou uma buscadora, estou buscando pelas respostas e o Kadecismo sempre me respondeu muito bem aos meus questionamentos. Essa frase que você usou é perfeita e norteou minha vida em um momento muito decisivo, onde eu estava fora do meu caminho, e de repente a verdade me fez livre! Lute,para que um dia possamos estar vivendo em uma sociedade mais empática, sem hipocrisias...

      Abraço
      Paty

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  2. Adorei!!! Concordo em tudo! Sou católica e como você já fui a templos espiritas e evangelicos, nada contra nenhum. Viva o amor!

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