terça-feira, 1 de abril de 2025

"Ninguém está condenado a ser quem sempre foi"

Ouvi essa frase outro dia e fiquei pensando sobre essa realidade, somos livres para escolher novos caminhos, mas estamos tão acostumados a ser quem esperam que sejamos que não nos atrevemos a fazer diferente. Precisamos questionar a vida, questionar nossos motivos de continuar sendo quem dizem que somos. Quantas vezes você disse para você mesmo que não poderia fazer algo e pontuou vários obstáculos, alguma vez você pensou em se perguntar o que poderia mudar para superar os obstáculos? 

Em geral nos acomodamos, naquele famoso lugar, a zona de conforto, que nem é tão confortável na maioria das vezes, é um lugar que nos acostumamos, que parece seguro, mas que não nos faz progredir. 

Podemos escolher mudar, mas não basta apenas escolher, é preciso agir, fazer de fato algo significativo para ser quem você escolhe ser. Posso escolher ser medrosa, ter medo de tudo, e me paralisar frente a qualquer coisa que me assombre, como posso escolher ser corajosa. Não nascemos medrosos, nascemos cheios de potencial, mas aceitamos muito fácil o que falam sobre nós, e ter coragem em alguns momentos nos trás destaque, e talvez você tenha sido ensinado que ter destaque pode ser perigoso. É como naquela crença de que felicidade de mais pode trazer uma infelicidade na sequência, e realmente como tudo é transitório existirão momentos bons e ruins, mas é sempre escolha sua como vai lidar com eles. 

Você é livre, e pode escolher, feita a escolha você deve agir para construir a sua realidade, ela não vem pronta, a vida é um processo contínuo de erros e acertos, nada vem do nada, tudo surge de algum lugar, de algum primeiro passo. Você não escolhe estar em outro país agora e em dez minutos chega lá, primeiro tem que iniciar a viagem, dependendo do meio de transporte que escolher chegará mais rápido ao seu destino, se não puder da maneira mais rápida não importa, importante é iniciar a viagem. #pensandoalto #vamosrefletir

A secreta vida de Walter Mitty (2013)

 

Depois de assistir esse filme fiquei me perguntando, por que não assisti antes, talvez porque precisava dele agora. Me lembrou o filme Hector em busca da felicidade, com um contexto diferente, mas com uma mensagem parecida. Precisamos nos abrir para novas experiências. Em geral os revezes da vida são grandes oportunidades para explorarmos mais da nossa própria capacidade de existir. Muitos de nós está vivendo no piloto automático, dia após dia, fazendo sempre o mesmo, sem arriscar fazer diferente. A vida está acontecendo, muitas coisas estão acontecendo, existem lugares incríveis para conhecer, existem pessoas incríveis para conhecer, existem sonhos para serem vividos, para serem realizados. 
Talvez a coisa mais simples da vida seja mesmo vivê-la, participar dela. 

sábado, 29 de março de 2025

Histórias que lembrei

Na vida existem momentos que nos marcam, que carregamos a lembrança nítida, estava assistindo uma entrevista com uma psicanalista que me trouxe diversos insights sobre alguns desses momentos do meu passado. Estava lembrando quando eu era criança devia ter uns sete anos de idade, a turma estava brincando no parquinho da escola e a professora pediu que eu fosse ver a hora no relógio da escola, sai do parquinho em direção a entrada da escola onde ficava um relógio bem grande, a distância entre o parquinho e essa entrada devia ser de uns cem metros ou um pouco menos, lembro que não fui sozinha outras colegas quiseram me acompanhar, então fui olhei o relógio vi as horas e voltei, mas como estava acompanhada me distrai com a conversa das coleguinhas e quando cheguei até a professora eu já não lembrava que horas eu tinha visto. Não me recordo o que a professora disse, mas lembro que fiquei muito envergonhada de não lembrar o horário, ela talvez expressou sua frustração em ter me delegado aquela tarefa e eu ter falhado, então ela mesmo foi lá ver as horas. Quando ela se levantou para ir até o relógio eu talvez tenha ficado ali remoendo meu constrangimento. Muitas vezes na vida adulta tenho essa sensação ainda, de que vão me pedir algo e talvez eu falhe na conclusão, quantas vezes acabei me sabotando, talvez revivendo aquele momento inconscientemente. Hoje tomando essa consciência posso ter mais controle sobre isso e aceitar o fato de uma criança de sete anos acompanhada de amiguinhas se distrairia com certeza e acabaria esquecendo o do horário que havia visto. 

Então uma outra memória me veio da mesma época, eu sempre morei perto da escola, e no inicio minha mãe me levava de casa até a escola, mas percebendo que o caminho era fácil e seguro deixou de me levar e então eu caminhava sozinha para ir e voltar, a professora sabia disso e por isso quando dava o horário de saída se despedia e me deixava ir para casa, mas um dia a professora faltou e a substituta não sabia que minha mãe não me pegava, naquela época tinha um outro coleguinha que também ia sozinho para casa, mas todos sabiam que ele morava uma quadra da escola, praticamente podia se ver a casa dele do portão, mas eu morava uns três quarteirões, então quando deu a hora de ir pra casa as mães chegaram pegaram os coleguinhas o meu amiguinho que morava perto saiu sem problemas, mas a professora substituta não deixou eu ir, disse que eu tinha que esperar minha mãe, eu tentei explicar que ia sozinha, mas ela pareceu não acreditar, talvez imaginou que eu estava apenas querendo ir logo embora, não queria esperar, enfim. Lembro que os que ainda estavam por ali me olhavam e mais uma vez me senti envergonhada com a situação, alguns coleguinhas falaram para ela que eu ia sozinha, não sei se a inspetora de alunos depois disse para ela que podia me deixar ir e então ela deixou, fato foi que ela acabou me deixando ir depois de longos minutos nesse empasse. Fui embora naquele dia com outro animo, envergonhada da minha autonomia, e também sentindo que minha mãe não estava fazendo certo deixando eu ir sozinha, na minha cabeça talvez ficou a ideia de que ter autonomia era algo solitário e que minha mãe devia cuidar mais de mim não me deixando voltar sozinha. Hoje percebo que não tinha nada errado, era realmente perto, era seguro, minha mãe confiava que eu sabia fazer aquele trajeto, mas me recordo que depois desse episódio o caminho parecia maior e a sensação de medo e solidão naqueles metros até em casa pesaram durante um tempo. Quantas vezes evitei lugares, situações e até viagens por sentir essa insegurança de que sozinha não era certo, de que tinha que ter alguém comigo, que alguém iria fazer alguma critica a meu respeito pela minha autonomia. Quantas bagagens trazemos da nossa infância, quantas coisas precisamos olhar agora com olhos de compaixão para aquela criança que não sabia e interpretava as coisas a sua maneira. Desde muito pequena eu sempre fui encorajada a confiar em mim e na minha capacidade de realizar, mas não entendia assim, entendia que isso não era bom, que era errado ter essa confiança e coragem. Como eu queria agora abraçar aquela menininha e dizer pra ela, olha só essa professora não conhece você, não conhece sua história, ela não sabe que sua mãe te acompanhou por alguns dias, e confiou que você poderia fazer isso muito bem, enquanto ela ficava com seu irmão caçula em casa te esperando, preparando o jantar da família enquanto você caminhava corajosamente para casa, que ir sozinha não significa que eu era só, mas que eu podia fazer aquilo. 

Estou prestes a fazer uma viagem sozinha, e talvez me lembrei dessas duas passagens da minha infância por perceber que adiei muito muita coisa por medo de viver, medo de assumir que sou capaz de realizar coisas grandiosas, que vou saber o caminho de casa, que vou saber para onde ir e o que fazer, que talvez eu me distraia em alguns momentos mas que eu posso voltar e fazer de novo. 
Independência é algo bom, falhar é poder fazer de uma forma diferente depois. 

Vamos acolher nossas histórias nosso passado, ressignificar ele enquanto é tempo e parar de nos sabotar na vida adulta, acolhendo nossa criança ferida, curando ela, para que possamos aproveitar o melhor que a vida tem a nos oferecer.