sexta-feira, 19 de abril de 2019

Dramática

Algumas semanas atrás alguém disse que eu sou dramática, alguém que mal me conhece, quando acabamos de conhecer alguém é fácil julgar por esse ou aquele comportamento, é fácil julgar sem conhecer a história do outro. Talvez eu realmente seja dramática, mas o que é ser dramática? De acordo com algumas definições o drama remete ao exagero.
Passei a vida toda desde muito cedo procurando ser exemplar, boas notas, obediente, amiga dos amigos, uma menina que todos de alguma maneira admiravam. Mas na verdade eu não sei se eu era realmente uma menina assim. Meus pais, como a maioria dos pais, me educaram muito bem, mas me protegeram excessivamente, do que eles acreditavam ser "o mundo". Lembro com muita clareza de uma festa que a escola fez em um centro de eventos, no final foi jogado balas para as crianças, eu me lembro que não consegui pegar nenhuma, já estava na hora de ir embora e os pais já estavam esperando, naquele dia meu pai tinha ido me pegar, e ele veio na minha direção com as mãos cheias de balas, acho que eu nunca precisei lidar com muitas frustações na infância.
Não posso dizer que tive uma infância difícil, não éramos abastados, meu pai trabalhava muito, minha mãe ficava em casa e cuidada de mim e do meu irmão, e de tudo mais da casa, mas eles sempre nos proporcionaram tudo que era possível.
E como boa menina exemplar acredito que eles sempre imaginaram que eu era autossuficiente e sabia me virar, acredito que eu até sabia me virar, mas sentia um medo danado. Por isso talvez eu tenha preferido abdicar dos meus próprios desejos para viver o desejo dos outros, é como se eu não pudesse sonhar porque realizar um sonho era algo muito complexo pra mim, dava medo, então eu vivia ajudando os outros a realizarem os seus desejos, era mais fácil. Foi assim durante muitos anos. Então, claro, adoeci, porque uma vida sem sonhos é uma vida patológica, muitas pessoas do meu convívio não notavam isso acontecer, não notavam que eu estava sempre ajudando, ajudando, ajudando; raramente eu pedia algo para mim, e elas sempre acreditavam que eu já tinha o suficiente.
Não sinto que eu seja dramática, exagerada ou algo do tipo, eu sinto que vivi muita coisa na vida, e essa bagagem as vezes pesa, estou cada dia me livrando do peso de algumas emoções, mas confesso que em alguns momentos é complicado pra mim cobrar o meu espaço diante de algumas situações, mas tenho enfrentado o medo, e como todos pegam pedaços de histórias, não olham o contexto podem sim me achar exagerada, cobrando que me olhem como sou, e não como acreditam que eu deva ser, talvez por isso possam me achar dramática quando eu digo o que penso, quando coloco o que sinto, porque esperam de mim um outro comportamento, esperam de mim uma passividade, mas eu não sou uma pessoa passiva, como eu acreditei por muitos anos que eu fosse.
Eu acreditei em muita coisa, acreditava que eu era tímida, que eu era fraca, que eu não tinha potencial, porque eu sempre tinha dificuldades de interagir com as pessoas, sempre acatava tudo que me falavam, e não lutava por coisas que eu queria. Hoje eu vejo que não era timidez, fraqueza ou falta de potencial, era apenas medo, medo do julgamento dos outros, eu tinha que ser exemplar, e me achava um rascunho, uma manuscrito que não seria editado. Percebem o drama? O exagero? Na verdade quando me chamam de dramática, talvez poderiam dizer, boa observadora. Eu enxergo as coisas, eu vejo as coisas acontecerem e expresso o que sinto, porque hoje eu não preciso ter medo de ser quem sou, de dizer o que penso, e realizar os meus sonhos.
Talvez o meu drama seja esse, lutar pelo meu espaço e dizer o que sinto da maneira que eu sinto, claro sem querer ofender, diminuir ou coisa do tipo, mas também não deixando que ninguém me ofenda, diminua ou faça de ridícula.
Cada um de nós tem o direito de lutar por si mesmo, por seus ideais, por suas convicções. Sou muito grata a tudo que a vida me proporcionou como aprendizado, inclusive os momentos que me tornaram tão dramática, porque é fácil para quem vê de fora julgar, se pudéssemos experimentar a vida do outro a quem julgamos, muitas coisas seriam diferentes.

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